A verdade de Mart’nália

Do tipo ‘sincerona’, a artista tem rasgado o manual do marketing nas entrevistas para promover o álbum em que canta pagodes da década de 1990. ♫ COMENT...

A verdade de Mart’nália
A verdade de Mart’nália (Foto: Reprodução)

Do tipo ‘sincerona’, a artista tem rasgado o manual do marketing nas entrevistas para promover o álbum em que canta pagodes da década de 1990. ♫ COMENTÁRIO ♩ As entrevistas concedidas por Mart’nália desde a semana passada para promover o álbum Pagode da Mart’nália estão divertindo quem sabe como funciona os bastidores da indústria fonográfica. É que a cantora, compositora e ritmista carioca tem rasgado o manual do marketing quando conversa com jornalistas sobre o álbum em que, sob (excelente) direção musical do pianista Luiz Otávio, canta do jeito dela 12 sucessos lançados por grupos de pagode associados ao samba mais pop da década de 1990. Quando um artista fala com a imprensa sobre um disco, ele já vem com discurso pronto que justifica o caminho que o levou a gravar esse disco. Não raro, esse discurso pode ser parcial ou totalmente fake, elaborado por assessores e/ou gestores da carreira de artistas que não têm o domínio da própria trajetória artística. Só que Mart’nália nunca faz gênero e é do tipo sincerona, aquela pessoa que fala o que pensa em qualquer ambiente, esteja ou não diante de um jornalista. Em resumo, Mart’nália se porta de forma verdadeira. E é isso que tem diferenciado as saborosas entrevistas promocionais do álbum Pagode da Mart’nália. A cantora deixa claro que o disco é ideia da empresária Marcia Alvarez – ideia de início rejeitada pela sambista porque, como Mart’nália vem reforçando nas entrevistas, ela nunca se sentiu atraída pelo pagode da década de 1990, vertente do samba que considera “careta”. Algo natural da parte de quem é filha de Martinho da Vila, gênio do samba, e cresceu em casa de bamba, bebendo das melhores fontes e batucando no ritmo dos partidos mais altos. Para completar, a cantora tem enfatizado que os convites para que Martinho e Caetano Veloso participassem do disco foram feitos com o intuito de dar o que Mart’nália chama de “aval” a um repertório pelo qual nunca morreu de amores. Tudo isso pode parecer banal, mas é raro e louvável. Mart’nália faz a verdade aparecer em uma era em que (quase) todos seguem a cartilha das redes sociais quando falam com a imprensa. Ou seja, todo mundo elogia todo mundo, mesmo que o faça com hipocrisia, para evitar polêmicas e até um eventual cancelamento. Ainda bem que, nesse mundo plastificado e pautado pela falsidade, existe Mart’nália com um discurso autêntico, franco, honesto. Mesmo correndo o risco de demolir a estratégia de marketing armada para promover o disco que marca a estreia da artista na gravadora multinacional Sony Music (e de irritar os cantores e compositores do pagode que tem minimizado publicamente...), Mart’nália se eleva com a força da verdade.

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